sexta-feira, fevereiro 26

ATIVIDADE FÍSICA, PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E

Palma, Alexandre
RESUMO


Apesar da clareza, encontrada em diversos estudos, a respeito dos benefícios que a atividade

física regular proporciona à saúde, pode ser questionável a interpretação que se faz destes achados. De um

modo geral, a visão hegemônica aponta para um viés biológico e individualizado da doença. Por outro lado, já

existem, em várias pesquisas, fortes evidências das relações entre condições sócio-econômicas e estado de

saúde. Dentro destas evidências, encontram-se, também, as associações com a prática de atividade física

regular. O objetivo deste estudo, então, foi organizar uma revisão da literatura sobre as condições sócioeconômicas,

o processo saúde-doença e a prática da atividade física. O trabalho, assim, chega a conclusão de

que a atividade física está bastante associada ao estado sócio-econômico e que os programas de intervenção

em educação física, no campo da saúde pública, devem ser revistos.

UNITERMOS: condições sócio-econômicas, atividade física regular, saúde pública.

INTRODUÇÃO

* Universidade Gama Filho e FIOCRUZ.

A atividade física regular tem sido

reconhecida por seus efeitos saudáveis nos

praticantes (ACSM, 1998; Pate, Pratt, Blair,

Haskell et alii, 1995; Shephard, 1995; Blair, 1993;

Berlin & Colditz, 1990). É possível relacioná-la a

alterações positivas para combater ou prevenir o

aparecimento de diversas doenças, tais como:

doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes,

osteoporose, entre outras. Por esta razão, o

sedentarismo aparece como fator de risco para

estas doenças.

Contudo, este modo de olhar a

relação entre a atividade física e a saúde aponta

para duas grandes inquietações. Por um lado, a

visão estreita de saúde e, por outro, talvez em

decorrência da primeira, a não identificação de

grupos desprivilegiados.

A noção de saúde tem sido traduzida,

principalmente, como ausência de doenças

(Bentham, citado por Lewis, 1986, p.1100) e como

"um estado de completo bem-estar físico, mental e

social e não apenas a ausência de doença ou

enfermidade" (Organização Mundial da Saúde,

citado por Lewis, 1986, p.1100).

Estas perspectivas, embora pareçam

diferir, conduzem para análises reducionistas, uma

vez que, para elas: a) as doenças decorrem de

determinismos biológicos; b) o foco é centrado no

indivíduo; e, c) a ausência de doenças é o

“marcador” da saúde. Neste sentido, o primeiro

problema que daí decorre, refere-se ao processo de

“culpabilização” do indivíduo frente ao

aparecimento de doenças que, em última instância,

poderiam ter sido evitadas.

Ora, se o processo saúde-doença

fosse uma determinação biológica, caberia ao

indivíduo alterar seus hábitos de saúde e estilos de

vida para encerrar a causa e, assim, cessar o efeito.

Logo, exercitar-se ou submeter-se a um regime

dietético, seriam atitudes que conduziriam o sujeito

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à saúde ou à ausência de doenças e, óbvio, seriam

responsabilidades do próprio indivíduo.

Burnley (1998) lembra que, entre as

teorias que buscam explicar as causas das doenças,

a teoria do “estilo de vida”, congruente com a

ideologia dominante de saúde, sugere que a

prevenção é uma responsabilidade pessoal, cujo

foco de intervenção se dará sobre o controle dos

fatores de risco individuais.

Contudo, este processo não se dá de

forma tão simples. De fato, a complexidade que

abarca tal questão obriga a repensar tanto o

conceito de saúde, como as intervenções que se

dão neste campo. Um movimento de ruptura

aparece na concepção de saúde apresentada no

relatório final da VIII Conferência Nacional de

Saúde: "saúde é o resultante das condições de

alimentação, habitação, renda, meio ambiente,

trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,

acesso e posse da terra e acesso aos serviços de

saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das

formas de organização social da produção, as

quais podem gerar grandes desigualdades nos

níveis de vida” (Minayo, 1992, p.10).

Para Canguilhem (1995) a saúde

consistiria em limites de tolerância às infidelidades

do meio social. Como este é dinâmico, comporta

acontecimentos, esta infidelidade é sua história.

Assim, a saúde seria a possibilidade de agir e

reagir, de adoecer e se recuperar. Canguilhem

ensina, muito bem, que a doença é uma nova

dimensão de vida.

Porém, conceituar “saúde” é sem

dúvida uma tarefa árdua, pois os conceitos

aparecem frágeis, não tão bem delimitados. Hans-

Georg Gadamer (1997) compreende este processo

como um mistério. A doença está relacionada à

história do indivíduo e deste com a sociedade, ela é

uma perturbação experimentada pelo indivíduo,

uma exceção que o afasta das suas relações vitais

em que ele estava habitualmente vivendo. Esta

experiência, da doença, relaciona-se ao estado

anterior da saúde, que estando “esquecida” ou não

chamando a atenção impõe o estabelecimento de

valores padronizados. Ora, a doença, então, não

pode existir sem a saúde.

É possível, assim, construir um novo

entendimento do que seja saúde em consonância

com a compreensão da sociedade, na medida em

que, os fatores de risco não são suficientes para

explicar as variações de mortalidade e morbidade

desta sociedade. O foco de análise, deste modo,

ultrapassa o indivíduo e recai sobre o coletivo. O

modo de “olhar” concentra-se, não apenas nas

causas biológicas, mas antes, nas relações entre os

indivíduos, grupos sociais, instituições, economia,

política, cultura, entre outros (Burnley, 1998;

Lawson, 1992; Navarro, 1998).

O objetivo deste estudo, então, foi

rever a literatura sobre atividade física, saúde e

doenças, em suas relações com as condições sócioeconômicas.

Como fruto deste viés, passa-se a

enxergar a vulnerabilidade de certos grupos

sociais, os quais, muitas vezes, não conseguem

exercer seus direitos à saúde.

PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E

CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS

Vários estudos têm incorporado

causas não-biológicas para interpretação do

processo saúde-doença. O reconhecimento de que

os fatores de risco individuais não conseguem ser

suficientes à explicação da morbidade e

mortalidade nas sociedades, fazem avançar o

conhecimento da saúde coletiva.

Num destes estudos, Burnley (1998)

procurou examinar as desigualdades na incidência

de doenças isquêmicas do coração, na Austrália

entre 1969 e 1994. O autor verificou que, embora

se observasse uma queda nas taxas de mortalidade,

as diferenças entre as “ocupações profissionais”

aumentava. Os operários ou trabalhadores de

processos químicos passaram de uma “odds ratio”

(razão de chances) de 1.00 no período entre 1969-

1973, para 1.41 entre 1990-1994, enquanto

empregados de escritório, em períodos

semelhantes, passaram de 1,07 para 0,76.

No detalhamento por região, entre

1969 e 1994, Burnley (1998) mostra, também, que

as taxas de mortalidade, na faixa etária entre 40 a

64 anos, diminuíram significativamente na região

metropolitana de Sydney (p<0,05) e aumentaram

na região industrializada de Illawarra-Hunter

(p<0,05), nas pequenas cidades do interior

(p<0,01) e nas zonas rurais (p<0,01). O autor

conclui que, além das relações entre as classes

sociais com a manutenção de estilos de vida, as

diferenças sócio-econômicas denotam a

distribuição desigual de recursos e riquezas.

Dressler, Balieiro & DosSantos

(1998) utilizaram-se do conceito de "estilo de vida"

de modo diferente. Como um componente das

diferenças sócio-ecônomicas-culturais, um

"modelo padrão" de estilo de vida foi determinado

pela tendência central da amostra para cada grupo

estudado, na cidade de Ribeirão Preto (São Paulo,

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Brasil). Os grupos sociais característicos foram

denominados de “favela” (classe social mais

baixa), “conjunto habitacional” (classe baixa),

“tradicional” (classe média baixa) e “alta classe

média”. Estes “modelos padrões” apresentaram-se

inversamente associados à pressão arterial,

sintomas depressivos e percepção global de

estresse. Quando confrontado com os indicadores

“categoria ocupacional”, “educação” e “salário”,

verificou-se que a pressão arterial relaciona-se

inversamente com a ocupação (p<0,05), com a

educação (p<0,05) e com o salário (p<0,01). Os

sintomas depressivos e a percepção de estresse

associam-se inversamente, muito

significativamente (p<0,01), com estes três

indicadores.

Mheen, Smith, Hart & Gunning-

Schepers (1998) analisaram as diferenças sócioeconômicas

na mortalidade de homens entre 15 a

64 anos de idade, na Grã-Bretanha. Os autores

concluíram que há uma crescente desigualdade,

entre as classes sociais, nas taxas de mortalidade

para doenças cardiovasculares, respiratórias,

infecciosas e causas externas ou acidentes. Estas

desigualdades se pronunciaram com mais força na

Escócia, do que na Inglaterra e País de Gales.

Para Kaplan (1996) existe um

substancial corpo de evidências que demonstram a

forte associação inversa entre as classes sociais e

os efeitos sobre a saúde. Contudo, o autor chama a

atenção de que o foco de análise deve considerar as

características da comunidade em que as pessoas

vivem, ao invés dos atributos individuais que

indicam as condições sócio-econômicas. Os fatores

de risco sócio-ambientais e pessoais aglomeram-se

nos espaços sociais, de tal modo que são

importantemente relacionadas a todas as

mortalidades. Kaplan demonstra, então, uma série

de fatores associados com as taxas padronizadas de

mortalidade, a partir de dados de residentes na

Califórnia (EUA). As “odds ratios” (razões de

chances) entre os fatores e as altas e baixas

mortalidades foram: baixa educação (4,25);

incapacidade de realizar Rx (4,0); obesidade (3,1);

insegurança na vizinhança (2,75); baixo suporte

emocional (2,6); sedentarismo (2,3); baixo salário

(2,3); alimentação inadequada (1,6); e, hábito de

fumar (1,5).

Num estudo com dados de 2.610

homens franceses, entre 50 a 60 anos, Michaux,

Ferrières, Ruidavets, Cambou & Pous (1996)

encontraram diferenças significativas entre as

condições sócio-econômicas e os fatores de risco

coronariano. Considerando as categorias

profissionais (CSP2- comerciantes e chefes de

empresas; CSP3- professores e intelectuais; CSP4-

profissões intermediárias; CSP5- empregados; e,

CSP6- operários), foi possível encontrar que o

tabagismo, o colesterol total, a pressão arterial

diastólica e o diabetes não apresentaram diferenças

entre as categorias profissionais. Contudo, a

pressão arterial sistólica mostrou-se muito

significativamente (p<0,001) diferente entre as

categorias e crescendo inversamente ao “status” da

ocupação, independente da obesidade e do

sedentarismo. O percentual de pessoas também

cresce, conforme diminui o “status” das categorias,

quando agrupa-se aqueles com medidas de pressão

arterial iguais ou superiores a 160/95 mmHg

(p<0,05). Os valores percentuais, também, são

muito significativamente (p<0,001) diferentes para

o índice de massa corpórea (IMC ≥ 27 kg/m2), que

traduz as proporções de gordura, a partir das

medidas de peso corporal e estatura, e para a

relação cintura-quadril (RCQ ≥ 0,98), mas, nestes

casos, não há uma associação inversa com as

categorias. Para o IMC, constata-se o crescimento

da CSP3 para CSP6 (30%; 35,3%; 37,9% e 43,5%,

respectivamente), embora a CSP2 apresente 38,5%

de seu total com o IMC acima do índice sugerido.

A RCQ apresenta os seguintes valores percentuais

da CSP2 à CSP6: 35,9%; 25,4%; 29,6%; 29% e

41,1%.

Rosengren, Orth-Gomér &

Wilhelmsen (1998) a partir dos dados de saúde dos

trabalhadores suecos, identificaram que a

mortalidade é três vezes maior nos trabalhadores

não qualificados do que nos gerentes e altos

funcionários. Os autores verificaram, ainda, que as

baixas classes ocupacionais associaram-se com a

alta prevalência do fumo, baixa integração social,

baixo nível de atividades em casa e fora de casa,

baixo suporte emocional, bem como, uma baixa

capacidade de percepção da própria saúde.

Todavia, não foi encontrada associação das classes

ocupacionais mais baixas com a elevação da

pressão arterial, do triglicerídeos e do colesterol.

O perfil lipídico em mulheres

saudáveis e sua associação com a condição sócioeconômica

foi estudado na Suécia por Wamala,

Wolk, Schenck-Gustafsson & Orth-Gomér (1997).

As autoras constataram a existência de diferenças

entre os níveis educacionais e o HDL (p<0,01);

razão colesterol/HDL (p<0,003); razão LDL/HDL

(p<0,003); mas, não para os níveis de colesterol

total e triglicerídeos. O baixo nível educacional,

ainda, foi associado à obesidade (p<0,01) e à

gordura abdominal (P<0,004). O poder de decisão

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no trabalho foi categorizado em quatro grupos e,

também, relacionado ao perfil lipídico. A diferença

entre os grupos de menor e maior poder de decisão

associaram-se ao colesterol total (p<0,03); HDL

(p<0,0004); razão colesterol/HDL (p<0,02); e,

razão LDL/HDL (p<0,02), mas não para os

triglicerídeos. Considerando o total de

remuneração no ano, pôde-se constatar a

associação com o HDL (p<0,01), porém, não com

o colesterol total, triglicerídeos, razão

colesterol/HDL e razão LDL/HDL.

Ao pesquisar a prevalência dos

fatores de risco cardiovasculares na comunidade do

Harlem, na Cidade de Nova Iorque, Diez-Roux,

Northridge, Morabia, Bassett & Shea (1999)

encontraram importantes diferenças quanto aos

indicadores sociais. O nível educacional associouse

inversamente com o hábito de fumar em homens

(p<0,05); com a hipertensão em mulheres (p<0,05);

e, hábitos de fumar em mulheres (p<0,01). Os

rendimentos de salários relacionaram-se

inversamente com o hábito de fumar em homens e

mulheres (p<0,01).

Atenção diferenciada pelo aspecto

geográfico foi determinada por Kunst, Groenhof,

Andersen, Borgan, Costa et alii (1999). Ao estudar

a mortalidade por doenças isquêmicas do coração

nos Estados Unidos da América e em 11 países da

Europa, os autores verificaram que a proporção

atribuída à doença ficou em 34 a 39% na maioria

dos países do norte da Europa, entre 10 a 21% nos

países do sul e na Dinamarca e nos Estados Unidos

em torno de 27%. Nas análises considerando os

tipos de ocupação (não-manual, manual e

agricultura) detectaram que, com exceção da Itália

na faixa etária entre 60-64 anos e em Portugal para

idades entre 30-44 e 45-59, os trabalhadores

manuais apresentaram “odds ratio” (razão de

chances) acima de 1.00, em todos os países e faixas

etárias. Para a faixa etária de 45-59 anos, a “odds

ratio” ficou entre 1,03 e 1,18 no sul da Europa;

entre 1,25 e 1,52 no norte da Europa; e, em 1,21

nos Estados Unidos.

Embora se possa encontrar na

literatura vários estudos que associam as

desigualdades sociais aos valores de morbimortalidade,

perduram as questões relativas às

interpretações destes achados. Lynch, Smith,

Kaplan & House (2000), ao enfrentarem estas

questões, tratam-na como resultante das políticas e

condições sociais que se exercem sobre o coletivo

de pessoas. Para os autores, não basta reconhecer

as diferenças entre as médias salariais de

determinados grupos. É preciso, antes, perceber

que os efeitos das desigualdades sociais sobre a

saúde são produto do processo histórico-políticoeconômico,

o qual reflete a combinação de

exposições negativas, perda de recursos,

dificuldade de acesso aos serviços, deficiências de

informação, entre outros.

Em estudo recente, Ross, Wolfson,

Dunn, Berthelot, Kaplan & Lynch (2000) ao

analisaram os dados estatísticos de 10 províncias e

53 áreas metropolitanas canadenses e de 50 estados

e 282 áreas metropolitanas dos Estados Unidos,

observaram que as províncias e áreas canadenses

têm menores desigualdades de rendimentos e

menores taxas de mortalidade do que os estados e

áreas metropolitanas dos Estados Unidos. Estes

achados foram mais proeminentes na população

trabalhadora (p<0,01) (r= -0,81) e pouco

significante para a população idosa masculina (r= -

0,44) e idosa feminina (r= -0,42).

Contudo, esta associação inversa

entre desigualdade de rendimentos e mortalidade

não se verificou dentro das províncias e áreas

canadenses. Isto sugere, segundo Ross et alii

(2000), que esta relação, entre desigualdade e

mortalidade, não é linear ou universal, mas, antes,

depende das características político-sociais

específicas do lugar. Este fato corrobora as

afirmações anteriores de Lynch et alii (2000).

ATIVIDADE FÍSICA E CONDIÇÕES SÓCIOECONÔMICAS

Se a realização da atividade física

regular é importante para à saúde, talvez fosse

importante torná-la um hábito entre os indivíduos.

Esta não é uma idéia nova. Nos Estados Unidos, a

despeito dos esforços das agências locais de Saúde

Pública, os níveis de atividade física encontraram

um platô, enquanto as taxas de obesidade ainda

aumentam (Pate, Pratt, Blair, Haskell et alii, 1995).

No Canadá, em 1994, 56% da população era

inativa, 27% moderadamente ativa e 17%

fisicamente ativa (Chandrakant, 1998).

Por outro lado, se as condições

sócio-econômicas têm uma forte associação com a

morbi-mortalidade e com a prevalência de fatores

de riscos para algumas doenças, pode-se acreditar

que isto é, também, representativo para o caso da

prática de atividades físicas. Kaplan & Lynch

(1999) indagam por que os grupos com menor

“status” sócio-econômico parecem associar-se mais

com o hábito de fumar, do que com o

sedentarismo.

Atividade física, processo saúde-doença e condições sócio-econômicas

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De fato, uma série de aspectos

poderão contribuir para que a atividade física esteja

sendo praticada indistintamente por diversas

classes sociais. O papel da mídia, a influência do

esporte de alto rendimento, a cultura local, entre

outros, podem significar importantes pontos a

considerar. Contudo, é preciso reconhecer, e

Kaplan & Lynch (1999) não afirmam o contrário,

que as condições sócio-econômicas, também,

relacionam-se inversamente com a prática de

exercícios físicos.

Num estudo realizado nos Estados

Unidos da América, a proporção de adultos que

reportaram estar sedentários no último mês, em

1991, foi de 40,14%; 32,00%; 25,43%; e, 18,64%

para os indivíduos que apresentavam,

respectivamente, rendimentos anuais de ≤14.999;

15.000-24.999; 25.000-50.000; e, >50.000. A

proporção dos sedentários para os níveis de

educação foram: 48,06%; 33,57%; e, 20,16% para

aqueles que têm, respectivamente, o “segundo grau

incompleto”; o “segundo grau” e o “alguma

formação técnica superior, pós segundo grau” (Pate

et alii, 1995).

Um interessante trabalho sobre as

representações sociais da relação trabalho/lazer,

das trabalhadoras domésticas-diaristas residentes

no município de Queimados que trabalham na

cidade do Rio de Janeiro, foi realizado por Ludmila

Mourão (1999). A autora constatou que estas

mulheres têm baixa escolaridade; têm que realizar

suas próprias tarefas domésticas (segunda jornada

de trabalho); levam três horas para chegar ao

trabalho e quatro para retornar à residência; saem

de casa por volta de quatro e meia da manhã e

chegam entre nove e dez da noite; trabalham seis

dias na semana; e, cujo discurso sobre o que fazem

no lazer ou tempo livre é: “o cansaço não deixa

fazer outra coisa”, além de dormir ou assistir TV.

A autora revela, então, como estas mulheres

trabalhadores têm uma enorme dificuldade de

acesso ao lazer.

A pergunta é: como estas

trabalhadores conseguirão tempo para realizar

atividade física e, mais do que isto, quais suas

prioridades no “andamento” da vida? Talvez, estas

mulheres estejam buscando apenas sobreviver e, aí,

a atividade física pode não ter o menor sentido.

O relatório de pesquisa sobre

padrões de vida dos brasileiros, elaborado pelo

IBGE (1999), mostra que os homens praticam mais

atividade física do que as mulheres. Do total de

homens, 26% realizam atividade física

semanalmente. Para as mulheres os valores

correspondem a 12,7%. Quando se verifica a

quantidade de pessoas que se exercitam durante

pelo menos trinta minutos ou mais, por pelo menos

três dias na semana, encontra-se 10,8% e 5,2% do

total de homens e mulheres, respectivamente. Na

distribuição das pessoas por quintos de renda per

capita mensal foi verificado que, dentre as pessoas

que praticam atividade física semanalmente, 13,8%

pertencem ao 1º quinto (mais baixa renda), 16,4%

ao 2º quinto, 16% ao 3º, 18,4% ao 4º e 31,5% ao 5º

quinto (mais alta renda). Para aqueles que praticam

por trinta minutos ou mais, por pelo menos três

dias na semana, os valores foram: 4,8% (1º quinto),

7,4% (2º quinto), 5,9% (3º quinto), 7,6% (4º quinto)

e 14,6% (5º quinto). De um modo geral, então,

percebe-se que a prática de atividade física

aumenta conforme a elevação dos rendimentos.

Luc Boltanski (1989), numa clássica

investigação, na França, sobre as classes sociais e o

corpo, mostra que a prática de atividade física

declina conforme decresce a classe social.

Considerando as categorias profissionais

“agricultores”, “operários”, “comerciantes”,

“assalariados”, “dirigentes de nível médio”, e

“dirigentes assalariados”, o autor percebeu que,

respectivamente, 70%, 53%, 44%, 42%, 42% e

32% nunca haviam praticado esportes. Entre

aqueles que praticaram e pararam antes dos 25

anos, a proporção era: 87%, 79%, 61%, 71%, 71%

e 57%. Os valores percentuais para os que

praticavam esportes no momento da pesquisa, com

exceção dos comerciantes, foi: 7%, 11,5%, 23%,

31% e 44%.

No extenso estudo de Michaux et alii

(1996), já citado, foi verificado que não havia uma

relação inversa entre as categorias profissionais de

maior “status” econômico e o sedentarismo. Os

autores encontraram diferenças muito significativas

(p<0,001) entre a prática esportiva por categoria

profissional, mas não totalmente em obediência à

ordem econômica. A CSP2 apresentou 22,1% de

indivíduos praticantes, contra 13% da CSP3,

11,6% da CSP4, 23,5% da CSP5 e 21,8% da CSP6.

As associações entre a prevalência

de fatores de risco cardiovasculares e variáveis

sócio-demográficas foram examinadas numa

amostra de 695 indivíduos residentes na

comunidade do Harlen, na cidade de Nova Iorque.

Dentre os demais fatores de risco, Diez-Roux et

alii (1999) observaram que os rendimentos e o

nível educacional associavam-se inversamente à

inatividade física nas mulheres, com significância

estatística de p<0,05 e p<0,01, respectivamente.

Nos homens, embora, também, houvesse

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encontrado uma relação inversa, os autores não

encontraram significância estatística.

Num estudo sobre a atividade física

em mulheres americanas negras, Adams-Campbell,

Rosenberg, Washburn, Rao, Kim & Palmer (2000),

a partir dos dados de 64.101 informantes,

observaram que a atividade física vigorosa

aumentava de acordo com o nível educacional, mas

não a atividade física moderada e a caminhada.

Contudo, as três formas relacionavam-se à

participação de atividade física intensa durante o

“segundo grau”. Os autores sugerem, então, que o

hábito de praticar exercício físico é reflexo da

prática de educação física na escola.

Em outra investigação, Ford, Merritt,

Heath, Powell, Washburn, Kriska & Haile (1991)

constataram, a partir de dados de residentes na

Pensilvânia (EUA), que os homens com menor

status sócio-econômico gastavam mais tempo e

energia durante as caminhadas para o trabalho e

serviços domésticos, enquanto aqueles de maior

status sócio-econômico despendiam mais tempo e

energia nas atividades físicas realizadas durante o

lazer. Para as mulheres estas diferenças foram

ainda mais proeminentes. O tempo médio gasto por

semana com atividades de lazer diferiu (p<0,0001)

de 72,1 minutos para 120,3 minutos entre aquelas

de menor e maior status sócio-econômico,

respectivamente. As taxas percentuais de

participação em caminhadas durante o lazer, entre

mulheres, também variaram significativamente

(p<0,005).

Mensink, Loose & Oomen (1997)

procuraram estudar a associação da atividade física

com outros fatores de estilo de vida saudável, com

5.311 informantes, na Alemanha. Os autores

definiram, a partir do nível educacional, ocupação

e rendimentos da vizinhança, um índice que refletia

o status sócio-econômico dos indivíduos. Três

grupos foram determinados: “baixo”, “médio” e

“alto” status sócio-econômico. Mensink, Loose e

Oomen perceberam que o nível “baixo”

apresentava uma taxa de prevalência de 21,7% de

sedentários e 7,5% ativos (+ de 18 METS gastos

por semana) (p<0,001), enquanto o grupo “alto”

verificava 20,8% de sedentários e 38,9% de ativos

(p<0,001). Os valores para as mulheres foram:

grupo “baixo”, 33,1% sedentárias e 13,8% ativas

(+ de 12 METS gastos na semana) (p<0,001);

grupo “alto”, 14,7% de sedentárias e 29,5% de

ativas. Eles verificaram, também, que os homens e

as mulheres empregados são mais ativos do que os

sujeitos desempregados (p<0,001).

Em estudo recente, Salmon, Hons,

Owen, Bauman, Kathryn, Schmitz & Booth (2000)

observaram o nível de atividade física realizado no

tempo de lazer, na ocupação profissional e nos

serviços domésticos em quatro grupos profissionais

diferenciados, na Austrália. O grupo 1, dos

gerentes, administradores ou profissionais liberais;

o grupo 2, dos comerciários e escriturários; o 3 do

operários; e, o grupo 4 dos que trabalham em casa.

Dentre outras características, o grau de

escolaridade entre os grupos variava muito

significativamente (p<0,001), tanto em homens,

quanto em mulheres.

Salmon et alii (2000), identificaram,

então, que nos homens a distribuição percentual de

indivíduos que “caminhavam” diferia muito

significativamente (p<0,01) e diminuía com o

status profissional, embora nos trabalhadores

domésticos aumentasse. O mesmo ocorria com o

quesito “alguma atividade física no lazer”. As

atividades físicas “moderada” e “vigorosa”

realizadas no lazer, também, apresentaram

diferenças muito significativas (p<0,001), porém

com a diminuição ocorrendo do grupo1 para o

grupo 4. Confirmando a maior exposição do

trabalhador de menor status ao esforço físico

intenso e continuado, os autores verificaram que a

quantidade de horas por semana realizando

atividade física vigorosa no trabalho e em casa

aumentava em quase três vezes do grupo 1 para o

grupo 3. O grupo 1 e 4 apresentavam valores

semelhantes (p<0,001).

Nas mulheres, nos quesitos

“caminhada”, atividade física “moderada” e

“vigorosa” e “alguma atividade física no lazer”,

pôde-se observar que a distribuição percentual caía

do grupo 1 para o grupo 3, porém aumentava no

grupo 4 (p<0,001). Para a quantidade de horas por

semana em atividades vigorosas no trabalho e em

casa, a distribuição aumentou em

aproximadamente duas vezes do grupo 1 para o 3

(p<0,001).

Em 1995, Bennett observou, como

resultados de seu estudo na Austrália, que todas as

formas de exercício no lazer estavam fortemente

associadas com o nível de educacional, de tal modo

que, os indivíduos com elevada escolaridade

tinham maior participação nestas atividades do que

os de menor escolaridade. Por outro lado, o grupo

formado por homens idosos de baixo nível

educacional apresentou maiores taxas de

sedentarismo. Este achado é, em parte, corroborado

por Boutelle, Murray, Jeffery, Hennrikus & Lando

(2000). Estes autores encontraram, na área

Atividade física, processo saúde-doença e condições sócio-econômicas

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 14(1):97-106, jan./jun. 2000

103

metropolitana de Minneapolis (EUA), uma relação

positiva entre os níveis de educação e os níveis de

exercício no tempo de lazer, em homens (p<0,05),

mas não em mulheres, embora houvesse diferenças

significativas entre os valores encontrados.

O levantamento sobre a prática de

atividade física entre obesos americanos,

coordenado pelo National Center for Chronic

Disease Prevention and Health Promotion (2000),

indicou que a distribuição percentual de indivíduos

que usaram a atividade física para perda de peso

relacionou-se inversamente com o nível

educacional. Considerando os níveis “abaixo do

segundo grau”, “segundo grau”, “alguma formação

técnica superior incompleta” e “formação técnica

superior completa”, os valores percentuais foram,

respectivamente, 47,4%, 65,7%, 68,5% e 72,7%.

Quando os coordenadores da pesquisa

relacionaram os níveis educacionais com o

percentual de indivíduos que realizavam a

atividade física para perda de peso seguindo os

padrões recomendados pelo Dietery Guidelines

Advisory Committee, os valores foram,

respectivamente, 17,7%, 19,9%, 22,5% e 25,5%.

Num estudo sobre a prevalência de

atividade física no lazer, Crespo, Keteyian, Heath

& Sempos (1996) utilizaram-se dos dados do

terceiro survey nacional sobre saúde e nutrição, nos

Estados Unidos e chegaram a conclusão de que

22% dos americanos continuam inativos e 34%

fazem atividade física de forma irregular durante o

tempo de lazer. Estas taxas variaram, no entanto,

em dependência aos grupos étnicos ou sexuais.

Assim, os maiores valores de sedentarismo foram

encontrados em mulheres, idosos, negros e latinos,

ou seja, naqueles que, historicamente, parecem ter

maior vulnerabilidade social.

O estudo epidemiológico (Siegel,

Brackbill & Heath, 1995) sobre o exercício de

caminhada, a partir de 81.557 informantes de 45

estados americanos, aponta na mesma direção. Para

aqueles que ganhavam menos de U$ 10.000 anuais,

o percentual de participação em atividades de

caminhada foi de 32,6%, enquanto para aqueles

que ganhavam mais de U$ 50.000 foi de 36,9%.

Para a participação em alguma atividade física, os

valores percentuais foram, respectivamente, de

56,7% e 82,7%. Considerando a situação de

emprego em ocupação profissional, os autores

verificaram que 33,4% dos empregados praticavam

caminhadas, contra 34,4% dos desempregados com

menos de um ano e 32,5% dos desempregados com

mais de um ano. Na participação em alguma

atividade, os valores, foram: 73% (empregados);

66% (desempregados com menos de 1 ano); e,

51,1% (desempregados com mais de 1 ano).

Por fim, a prevalência da tentativa de

perder e controlar a massa corporal, foi estudada

por Serdula, Mokdad, Williamson, Galuska,

Mendlein & Heath (1999) a partir de dados de

107.804 americanos. Os autores encontraram, para

os níveis educacionais “abaixo do segundo grau”;

“segundo grau”; “alguma formação técnica

superior incompleta”; e, “formação técnica

superior completa”, os valores percentuais de

23,3%; 26,7%; 30,2%; e, 32,3%, respectivamente,

para a tentativa de perda de massa corporal, em

homens. Para as mulheres, os valores foram:

37,7%; 43,1%; 46,5%; e, 44,2%.

Serdula et alii (1999) investigaram,

ainda, em função destes níveis educacionais em

homens, que, respectivamente, 82,3%; 84,6%;

88,0% e 88,4% utilizavam a dieta como estratégia.

A atividade física era utilizada deste modo por

50,5%; 62,1%; 69,7%; e, 74,0%. Nas mulheres, os

valores encontrados para prevalência da dieta

foram, respectivamente, 88,2%; 92,5%; 93,3%; e,

92,5% e para o uso de atividade física, 46,2%;

63,0%; 69,3%; e, 74,4%.

COMENTÁRIOS

Um certo rompimento com o

enfoque hegemônico pode ser reconstruído a partir

de uma outra concepção de saúde, a qual pode ser

enunciada considerando-a, de imediato, como um

direito à cidadania.

Até onde se pôde verificar, há uma

variedade de estudos que indicam o estado sócioeconômico

como um fator influenciador à

prevalência de vários problemas relacionados à

saúde, incluindo as doenças cardiovasculares, a

obesidade e o sedentarismo. A quantidade de

rendimentos, o nível educacional, a ocupação

profissional, as desigualdades sociais, entre outros,

são todos elementos que podem facilitar esta

prevalência ou, ainda, dificultar o acesso aos

serviços de saúde e similares, à informação ou aos

exames necessários, os quais poderiam ajudar no

combate destes problemas.

De outro modo, é relevante apontar

para algumas dificuldades em se mensurar

adequadamente o estado sócio-econômico. O nível

educacional medido através do grau de

escolaridade, por exemplo, pode não representar

verdadeiramente as diferenças ou semelhanças

entre os indivíduos. Tanto a época, quanto o lugar

PALMA, A.

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 14(1):97-106, jan./jun. 2000

104

onde se estudou favorecem a uma não

homogeneização dentro de um grupo determinado.

Os rendimentos, também, apresentam problemas

nas análises. Embora, o rendimento influencie

diretamente na qualidade da educação e no acesso

aos cuidados médicos, o menor rendimento pode,

por si só, já ser reflexo de uma má saúde. A

utilização da variável ocupação profissional,

também, pode ser problemática, pois cada uma

envolve diferenças de status, poder, prestígio,

estilo de vida, rendimentos, tradição, valores,

características de esforço, etc (Kaplan & Keil,

1993).

Kaplan & Lynch (1999) comentam,

ainda, que pode ser preciso considerar as

características da comunidade estudada, e não só as

variáveis estabelecidas. Mesmo com condições

econômicas semelhantes, dois grupos podem ter

hábitos de saúde e participação em programas de

atividade física diferenciados. Nas comparações

entre comunidades rurais e urbanas isto parece

estar bastante evidente. Porém, mesmo em grupos

urbanos localizados em regiões bem distintas,

como por exemplo uma favela de Copacabana e

uma comunidade do bairro de Santa Cruz, ambos

no Rio de Janeiro, têm, decerto, possibilidades

distintas para prática de atividade física e higiene.

Embora possam conter algumas

dificuldades, estes indicadores são amplamente

utilizados e aceitos pela comunidade científica. Por

outro lado, esta variedade de elementos levantados

com intuito de indicar as condições sócioeconômicas

refletem, em última instância, as

diferentes orientações teóricas e suas exigências na

condução da pesquisa. A visão weberiana percebe

a estratificação organizada ao redor de três

aspectos (vantagem econômica, status e poder). O

viés marxista baseia-se nas interpretações dos

conflitos e oposições dos interesses das classes

sociais, em função da propriedade dos meios de

produção (Kaplan & Keil, 1993). Deste modo, os

indicadores podem ser aceitos ou rejeitados, de

acordo com a orientação teórica compartilhada.

Outro ponto de grande importância é

que a maioria destes estudos revistos foram

produzidos em países industrializados. Se nestes

países, onde a diferença de rendimentos em dólares

entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres é da

ordem de 6,70 vezes, já se percebe a repercussão

das desigualdades sócio-econômicas sobre a saúde;

no Brasil, em que as diferenças de rendimentos

entre os 20% mais ricos e pobres estão em torno de

32,11 vezes, as conseqüências à saúde serão ainda

maiores (PNUD, 1998).

O impacto dos fatores

macroeconômicos na saúde pública é alvo de

discussão para Kaplan & Lynch (1999). Estes

autores comentam a respeito de como os aspectos

sociais e econômicos podem ter alguma influência

sobre o estado de saúde da sociedade, bem como,

sobre a prevenção primária das doenças. O enredo

de globalização da economia, que provoca alta

competitividade, desemprego, insegurança no

trabalho, desigualdades sociais, baixa coesão

social, etc, poderia estar provocando uma elevada

pressão sobre os trabalhadores e, por isso,

favorecendo o aumento do estresse, da pressão

arterial e das doenças cardiovasculares. Por outro

lado, o trabalhador estaria com seu tempo

diminuído para cuidar de si próprio, além do

maciço programa de marketing desenvolvido para

vender cigarros, alimentos do tipo “fast food” e/ou

refrigerantes, os quais, notadamente, favorecem

uma pior condição de saúde.

Finalmente, cabe ressaltar que esta

revisão permitiu ilustrar como os eventos sócioeconômicos

podem ter algum impacto sobre as

condições de saúde da sociedade. É preciso, pois,

repensar os “modos de olhar” a saúde e permitir

àquele que mais precisa, realizar seu direito à

prática de atividade física e saúde.

ABSTRACT

PHYSICAL ACTIVITY, HEALTH-DISEASE PROCESS, AND SOCIOECONOMIC STATUS:

A REVIEW OF THE LITERATURE

In spite of the explicitness found in many studies concerning the benefits of physical activity to

health, some facts deserve a deeper interpretation. In general, the hegemonic approach puts emphasis on the

biological and individualized aspect of the disease. On the other hand, many researches already show strong

evidences of the relationship between socioeconomic status and health. Among those evidences associations

with the practice of regular physical activity are found. The aim of this study, then, is to organize a literature

Atividade física, processo saúde-doença e condições sócio-econômicas

Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 14(1):97-106, jan./jun. 2000

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review about socioeconomic status, health-disease process and physical activity practice. The study comes to

the conclusion that physical activity is strongly associated to socioeconomic status and, furthermore, the

physical education programs of intervention, in the field of public health, must be reviewed.

UNITERMS: Socioeconomic status; Physical activity practice; Public health.

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Recebido para publicação em: 06 jun. 2000

Revisado em: 13 set. 2000

Aceito em: 28 nov. 2000

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